quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Prelúdio de Thanatos Alfheim

Bem, como começar?

Talvez comece já deixando claro ou meu descontentamento em estar aqui escrevendo coisas nisso em que você Flemeth insiste em nomear de diário...

Ou talvez, seja melhor começar já me desculpando. Confesso nunca ter escrito nesse livro antes. Sim, descumpri alguns pedidos, mas, tenho lá meus motivos. Imagine você todos os dias escrevendo sobre aprendizados, impressões e sentimentos que acaba de ter ou sofrer? Com certeza muito do seu dia seria gasto, e uma vez ou outra acabamos esquecendo de registrar os acontecimentos do dia, é natural.

Sempre deixava para realizar os registros depois pensando ser capaz de lembrar-me de tudo, mas, minha memória acabava me deixando na mão, seguidas vezes, diga-se de passagem, o que ocasionou meu desleixo e desatenção em relação a esse livreto.

De qualquer modo não adianta chorar pela tinta não derramada sobre o papel, e no meu ponto de vista, isso nunca influenciou minhas capacidades e minha maneira de lhe dar com a magia arcana.

Então, já concluídas as primeiras palavras, retomemos o início. Não tenho recordações claras, afinal meu pai me abandonou enquanto ainda era jovem demais. Sei que não gosta quando digo que ele me abandonou, prefere dizer que ele me entregou a você. São apenas conceitos diferentes.

Não consigo guardar magoas dele, algo no fundo de meu coração insiste em me dizer que foi preciso, e que apesar de ter sido entregue por suas próprias mãos, meu pai não teve culpa e nem ao menos teve outra alternativa. Ele era tão seguro de si e de suas capacidades. Mesmo ainda não compreendendo bem o mundo já tinha formada a ideia de que ele era meu herói, engraçado isso não acha?

Lembro-me de que ele sempre era visitado pelos templários, homens iguais a esses que insistem em te visitar Flemeth. Porém, diferentemente de você ele conseguia se livrar deles com tanta simplicidade... Era como se tudo fosse resolvido com as palavras certas. Outra coisa de que me recordo e de sua tatuagem no braço, semelhante a minha, pelo menos na cor e na forma, ele não a escondia.

As únicas recordações que me sobraram dele foram essas. Não herdei muito dele, pelo menos é o que você sempre diz não é? Já estou convencido que não. Talvez não seja tão disciplinado quanto ele, e nem tão calmo. Realmente não consigo focar-me em um objetivo único e investir nele. Também, não tenho total controle dos meus sentimentos e muito menos tenho interesse no arcanismo. Mas, como todos os outros, tenho minhas qualidades que apesar de não serem valorizadas por você talvez tenha seu valor para alguém...

Desculpe. Às vezes você cobra de mim algo que na sou, e cria uma expectativa que nunca vou cumprir. Isso me dói, apesar de não parecer Flemeth. Você é a única pessoa em minha vida depois de meu pai, querendo ou não eu criei um forte vínculo com você, e nada me dói mais do que te decepcionar e não ser o que você espera que eu seja.

Venho de todas as formas, tentando provar minhas capacidades naquilo em que julgo ser importante, sem sucesso muitas das vezes, mas persisto ainda. Estive pensando que posso não estar maduro o suficiente e você tenha razão em suas palavras, creio que seja melhor passar um tempo andando pelo mundo e tentando me encontrar.

Lembra, quando costumava pegar seus potes de vidro quando pequeno para prender os pequenos insetos brilhantes que caçava pelo pântano? Costumava prendê-los e colocá-los no fundo do pântano. Queria poder caçar tantos que pudesse ser capaz de iluminar todo esse lugar vazio e sem vida. Coisas de criança. Até hoje ainda tenho esse velho costume de guardar aquilo que acho interessante dentro desses potes. Talvez me sinta também preso em um.

Foi uma das únicas diversões que arrumei por aqui, caçar coisas que me chamavam a atenção pelo pântano e tocar flauta. O resto do tempo, dedicado as leituras entediantes e vazias, ao testes que sempre aplicava e a execução das tarefas que me ordenava. Talvez de todas as ordens dadas a única que descumpri foi essa, a de não escrever sobre mim durante o longo dos anos. É verdade que as outras sempre fazia de mal grado e de qualquer forma, mas, convenhamos não deixava de realizar não é verdade?

Gostaria de ir à cidade mais vezes, mesmo não tendo gostando tanto das vezes em que fui. As multidões me incomodam. Talvez já tenha me acostumado à solidão do pântano. Existem tantas coisas novas nas cidades e vilarejos, e é isso que me motiva a querer ir mais vezes a eles. Sempre quando vou aos vilarejos trago alguma lembrança e as guardo nesses pequenos potes, e outras guardo em meu coração... Aquela bela moça de cabelos ruivos e pele clara como a luz da lua não me sai da cabeça, foi apenas uma noite, mas, lembro-me de seu cheiro e do ritmo das batidas de seu coração, perfeitamente. Nem ao menos sei seu nome, porém, antes de partir, me presenteou com essa adaga de lâmina vermelha, vermelha como seus belos cabelos. Já se apaixonou por alguém alguma vez Flemeth?

Voltando a escrita. Tive que ir molhar a faixa, minha tatuagem estava ardendo um pouco. Falando nela, essa tatuagem é algo que me intriga. Sempre a tive, desde que me entendo por ser vivo, e ela parece crescer comigo. Lembra-se de quando cheguei? Era apenas uma pequena manchinha a vermelhada, cresceu junto comigo, até que ficou interessante esse desenho não? Depois poderia me explicar melhor sobre os espíritos, afinal é um que está desenhado em meu antebraço, certo? Às vezes doía bastante, devo agradecer por ter feito essa faixa com essas runas, fez com que a dor diminuísse consideravelmente.

Olhando para mim hoje não consigo me enxergar muito a frente. Não acredito muito em suas teorias de que meu pai guardara uma tarefa tão importante quando diz, e nem me interesso muito por essa tão misteriosa ordem de ele fazia parte. Essa é uma questão que não compreendo. Como quer que vá a busca de algo que ao menos sabe o que é? Se bem que tenho minhas dúvidas em relação aos seus verdadeiros conhecimentos. Deve esconder tantas coisas que poderiam muito bem facilitar minha vida, mas, como dizem, temos que fazer nosso próprio caminho. Fique tranqüila, já estou começando a aceitar essa verdade universal.

Agora respondendo a sua pergunta. O que conheço do mundo? Fora as lendas horrendas sobre sua pessoa, nada mais. As histórias construídas pelos seres que neles vivem não me interessam como interessam a você. Não apenas as histórias, mas como suas causas.

Porque sempre ter que ter um objetivo de vida, uma causa para se lutar? Flemeth quero apenas viver e ter tempo para aproveitar o que o mundo nos oferece. Caso venha a morrer e todo seu plano de vida que anseia para mim desmorone colina a baixo, peço que não me culpe, queria apenas ser eu...

Thanatos Alfheim

Um comentário:

  1. Bem, esse foi um prelúdio feito para Thanatos Alfheim, personagem Feiticeiro que criei na mesa de D&D, narrada por Sir Bodão, que parece ter miado.

    :P

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